sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Conto.: Mais Um De Verão

por Maria Antonietta


O cheiro de água salgada invadia a tarde ensolarada e quase desperdiçada com uma longa dormida. Eram onze na casa de praia. Era uma na casa. Dez haviam saído para aproveitar os doces anos juvenis. Cada um aproveita do jeito que acredita que os merece. Contavam-se dez que acordavam cedo, dez que se banhavam no mar, dez que repetiam os mesmo dias, a mesmas coisas entre si e uma que tirava férias. Dizem que tem horas para tudo, babaquice deveria ter o seu tempo e se contentar com o pouco que, de fato, lhe cabe. Pensava nessa linha enquanto descia ainda sonolenta as escadas e, pior, faminta. Leite era o máximo que sobrava das refeições. Enquanto o bebia traçando seu fim de tarde, a campainha soou como som longínquo, fora da realidade. Abriu o portão sem pressa e se deparou, sem crença, com a criatura mais surreal daquela breve vida estival.
-Oi! Tem alguém em casa? Perguntava uma voz magistrada por lábios desenhados e dentes em sintonia, tudo orquestral.
-Eu! Respondeu de imediato, sem sentir.
-Você  está só?
-Sim.
-Hum… Tá! Depois passo aqui!
-Não! Enfática. Ah… Não quer esperar? Acredito que já estão voltando. Nenhuma reação. Apenas uma ligeira expressão. Um franzir de cenho que inspirava dúvidas. Entre! Espere aqui!
Enquanto a outra adentrava o cômodo, Maria Eduarda admirava suas passadas femininas fazendo conjunto com seu corpo que, por sinal, estava mais que visível naquele bicolor biquíni. É o verão! Elas se trajam despudoradas, mas dignas. Não conseguia tirar os olhos da típica praieira e fantasiava cenas de quentes trocas de carícias entre elas. Estava completamente atraída, apesar de estar certa de que a outra não corresponderia. Mas, talvez, investir fosse o máximo que poderia fazer por si naquele momento; embora não tivesse idéia de como começar. Aquele arrepio que sentira à primeira vista não era tão comum e isso a acuava de certa forma. Até romper o silêncio já bastava.
-Como é  seu nome?
- Isabela. E o seu?
- Maria Eduarda. Falava cortesmente. Duda não era forma de se apresentar. Muito menos Dudinha. Ou era? Já estava se perdendo novamente. Talvez tivesse dito tão só Maria.
- Por que você  ficou em casa? Não gosta de praia?
-Não muito. Viu um sorriso. De canto, mas fascinante.
Conversa ia e vinha e Maria ousou sentar-se ao lado da novata. Linda, intensa, bronzeada… Eram da mesma idade. Estavam concluindo suas inexperientes segundas décadas. No meio da conversa descobriu que Isa – já podia chamá-la assim por sugestão da própria- estava solteira. Não pode disfarçar seu contentamento. A outra percebeu. Aliás, a excitação estava no ar. Elas respiravam a energia da outra. Palpitavam juntas ritmando a música que trilhava em forma de prosa. Pareciam à vontade. Já nem se via tantos passos medidos a se dar. Riam juntas. Frios na barriga visitavam ambas. Se tocar sem querer causava sensações de paixão guardada. Maria Eduarda não temeu que caísse a tarde tão rápido. Aliás, até já previra que os minutos não pausariam naquela envolvente conversa. Isabela revelou que seu propósito era convidar a todos para uma festa, à noite, em sua casa. Teve de se despedir para preparar a festa. Foi um abraço. Sim, um demorado abraço. Os braços de Maria sentiam, completamente, as costas da pequena; podia sentir seu aroma, seu hálito perto da orelha, seus batimentos.
Mais tarde já estava sendo recebida pelos amigos de Isabela: muita música, bebida e danças. Mas só uma dançarina a interessava e esta ia se aproximando para cumprimentá-la com um doce beijo na bochecha. Segurou-a pelo braço e a levou para a pista. Maria estava fisgada por o jeito de dançar e falar dela. Falar perto demais e tocando seus cabelos. Estava absolutamente hipnotiza e não sabia o que fazer. Seus gestos, seu jeito, tudo provocava em Maria uma excitação inexplicável, incrível. Dançavam num som delirante; a cada instante que sentia seu toque, o corpo de Maria estremecia de prazer. Não era só o fato de estar com uma bela mulher, mas de senti-la tão de perto que não conseguia controlar a própria respiração. Quando Isabela lhe tocava as costas para falar coisas banais ao seu ouvido, ou até mesmo quando peculiarmente encostava sua boca roçando na orelha de Maria de leve a mesma sentia que enlouqueceria. Resolveu não segurar mais sua vontade de beijá-la profundamente: trocou olhares insinuantes com ela enquanto ela chegava mais perto correspondendo seus desejos carnais. Encostou-se ao seu ouvido sentindo seu seio roçar de leve no dela e, suavemente, falou que precisava sair dali para tomar um ar, uma bebida.  Ela anuiu a abraçando para que a outra sentisse mais forte sua excitação. Foram de mãos dadas até a praia e sentaram-se na areia. A lua gigantesca casava com o mar fazendo um belo quadro com direito a moldura e lugar na sala principal. Sentadas estavam bem próximas. Maria um pouco nervosa, tímida. Isabela, repentinamente, encostou sua mão na da amiga causando-lhe arrepio.
- Sabe o que eu estava pensando? Perguntou Isa. Você já beijou uma menina?
-Por quê?
-Quando você  encosta em mim… sinto vontade de lhe beijar. Não sei o que acontece…
Não precisou de mais palavras, foram se aproximando, brandamente, até que os lábios se encontraram. Beijavam-se como criança quando prova doce. Saboreavam-se. Riam. E não deixavam os lábios se desencostar. Deitavam-se. A areia tornou-se uma bela cama. Estavam, de leve, uma por cima da outra. Abraçaram-se, tocaram os corpos, sentiram-se. Deixaram-se levar pelas ondas, pelo beijo, pelo calor. Seus seios enrijeciam. Não podiam deixar de movimentar-se em ritmo leve. Delicadamente, Isabela, que estava por cima, passou as mãos pelo cabelo da outra, beijou-a e ela sem acreditar, puxou Isabela para perto num novo abraço. Intensas, se desgrudaram. Maria, agora deitada ao seu lado, sentiu sua mão ser alisada. Olhou para o lado e ouviu a melhor promessa.
- Do jeitinho que você é sempre quis ter uma namorada.
E sorriram despreocupadas.

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